sexta-feira, 7 de abril de 2006

:: linhas na praia

a linha da minha mão,
alinhada em perdida linha
bem na linha do horizonte
dessa vida que é só minha.

uma varanda jacarandá,
ocre da areia, azul do mar,
rede de pesca embolada nos sonhos,
sereia soprano cantando de lá.

manhãs suadas, pegadas na beira,
chuvisco das ondas salgando sorrisos.
céu tristonho, silêncio medonho,
solidão rasgada, coração partido.

meu quieto violão sem a sol,
calado, emudece a luz da canção.
e a tarde se esvai em azul e violeta
na tortuosa linha imperfeita
da minha mão...

quarta-feira, 22 de março de 2006

:: romântese


ser, indubitavelmente,
a sombra de você mesmo.
é estar onde você está,
fazendo aquilo que deseja fazer,
sonhando como quer sonhar,
somente para ter uma ponta de prazer
em ver-se adorado
por qualquer um que se sinta.

há bem menos que amor em romantismo.

mora, nele, um voraz desejo,
uma incontrolável vontade
de ser ignorado:
como um estranho
que enxerga muito além
e conhece muito aquém
do sentimento humano.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

:: teu silêncio


o que se move em ti
enquanto verto lágrimas?
que força descomunal desprendes
ignorando meu penar,
impedindo-me que seja mais teu?
sou parte tua, da tua vereda.
assim me faço e me reconheço.
quero entender-te apaixonadamente
a ponto de perder minha rota
e desconhecer meu ponto exato de chegada.
por que motivos me angustias?
preterindo a verdade ao padecer?
a que sorte me lanças
quando me apanhas subitamente com teu calar?


tantas perguntas e pressentimentos...
e somente o silêncio...
silêncio...
silênci...
silênc...
silên...
silê...
sil...
si...
S...
...
...
...

ele é tua vaga e eterna resposta.
convencido de que meu coração
desacelerar-se-á em calmaria.
perderei o sono e meu sossego.
há rebuliço em meu peito
à espera de que meu querer
dissolva, em um só abraço,
tua íntima escolha
de não me deixar compreender-te.

sábado, 7 de janeiro de 2006

:: serenidade


sim, assim nascem meus escritos.
nascem dos verdadeiros diálogos, dos mais simples.
das conversas sinceras,
dos sentimentos puros,
Iitactos,
brutos.

pouco me importa se vou machucar...
mas é assim,
auto-imolação para reaparição.
não consigo conter em meus dentes cerrados
as palavras que agridem seus hábitos,
essa sua mania inevitável de sofrer.
ah, ignota forma de trocar pelo prazer efêmero
a sublime espera pela singeleza da serenidade,
mas opta pela insistente espera da dor.
tanto que ela chega.
chaga, rasgando a firmeza do ego
transformando-se em lágrimas e palavras incompletas
embalsamadas com o perfume do remorso.
e sabe que tem de esquecer e se reinicia o martírio.

enfeite-se com flores-da-paixão e toques de apreço
e se fantasie com sua sonhada pseudo-liberdade,
mas ciente de que só estará absolvida do passado
quando finalmente souber arrostar
a eterna espera pela singeleza da serenidade.

[07.01.2006]