terça-feira, 20 de dezembro de 2005

:: venha sem mim


ando sempre esquecendo.
da primeira vez esqueci o bruno, a leila...
e agora foi com a simone.
sem me dar conta que os hermanos
estavam na mala, guardados.
ando sempre esquecendo...
da primeira vez esqueci a razão, meu tino.
e agora foi com a insegurança.
sem me dar conta que meu carinho
estava guardado em você.
ando mesmo sempre esquecendo
[aliás] quero sempre mesmo estar esquecendo,
para ver se um dia chega o dia
em que não precise mais ver
que volta [também] por conta das coisas
[bruno, leila, simone, hermanos,
razão, tino, insegurança, carinho]
que esqueço, deixo-as com você.
quero que esqueça sua alma dentro da minha.
e voltará não mais para me devolver algo
e levar outro sem seu consentimento.
mas sim para se encontrar em mim:
quando esquecerei de esquecer, finalmente.
porque de tantas idas e vindas
estará já em mim, inseparável.
esquecido em meu ser.
[...]
no entanto, vou esquecendo.
pacientemente.
de propósito.

terça-feira, 22 de novembro de 2005

:: poeiras insanas


é hora de folgar a gravata do romantismo
e deixar que o tempo e as circunstâncias te norteiem.
prefere o silêncio do coração que a indecifrável insegurança
que ronda os arredores de tua felicidade.

despreza designações e tratados, vez por outra.
permite fingir-te apático casualmente.
a verdade, por mais que te importune e atordoe
é, supostamente incompatível, teu amparo.

desamarre as ilusões dos teus cândidos ideais.
são somente teus, não os estenda a ninguém
pois não se tornam dignos de tuas lisonjas
apenas por força de tuas banais teimosias.

persevera no sentido de um dia amar só.
ou apenas entrega-te, lânguido, aos prantos.
ou cessa o calor e rende-te às tuas infiéis frivolidades.

a dor, um dia, acomodar-se-á em tua essência
e, sereno ou sofrendo, perecerás nas esperanças
de te apossar indubitavelmente do afeto alheio.
e, ainda assim, chegando esse instante
em que a alma engana-se sobrenadando
nas poeiras insanas da comoção,
velarás teu pressentimento tão frágil
de que havia, enfim, ter alguém [con]vencido.

amargura e chora.

mas chora sempre instigando.
ou o abandono, à força, dos desejos
ou a entrega às venturas eleitas pelo amor que antevês.

[22.11.2005]

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

:: desassossego


não seja paixão
nem coisa de pele
talvez se revele
ou quem sabe não

não seja queimor
nem coisa de vício
talvez desperdício
ou quem sabe amor

sinto revolver
aqui bem por dentro
sou mais um detento
do saber de você

velo na separação
de perto disfarço
e não me desfaço
dessa condição

amo seu jeito
seu tudo imperfeito
e o que sente por mim

é coisa de feição
fantasias do coração
desassossegado assim

[19.10.2005]

: último desejo


eu não sou você, não sou eu, não sou ninguém.
não posso responder por mim, nem por minhas escolhas.
há muito deixo que os sentimentos me tomem conta
e façam as opções que acredito serem as corretas
existem muitos motivos e, para eles, poucas palavras.
falo pouco porque se tiver que magoar, magôo pouco.
falo pouco porque se tiver de me afligir, será lentamente.
falo pouco porque sei que não falo por mim.
digo por esse alguém, que desconheço:
eu não sou você, não sou eu, não sou ninguém.
o que me importa agora é desobrigar-me do egoísmo,
mas não posso ser assim, porque não sou assim.
sendo assim, nem me desobrigarei do meu contentamento,
talvez eu também me sinta dessa forma.
só existe em minh’alma, o desejo de ser compreendido,
o propósito de, cedo ou tarde, ser puramente absolvido,
na tentativa de me esbarrar em mim, em você, em vocês
e dar-lhe conta do verdadeiro sentido dos meus sentimentos.

(...)

acredite, o mais importante e salutar e o mais provável
tornar-se-ão efetivos, mesmo que a troco do nosso sorriso,

às duras penas da aparente debilidade das suposições
e da fortificação da dor e da saudade e do perdão.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

:: qualquer barco


alcance uma pedra
a mais alta do quebra-mar
de onde veja todo o horizonte
e a lua despindo-se do oceano

aviste uma pequeno barco
sozinho, lá, bem longe
e o chame de mim.

sou eu assim
sempre sozinho e sombrio
sem gente, rede, motor ou remo
esperando algum fim

sábado, 1 de outubro de 2005

:: letargia


só há um vazio
e fumaça de cigarro em meus pulmões.
gosto de álcool na boca
e uma náusea irritante.
o que fiz de mim e das pessoas
e das coisas que são minhas?
e as boas coisas, onde estão?
nunca soube fazer nada no momento certo.
se é que houve momentos certos.
pés paralelos, sem saber que passo dar agora.
soube perder tudo o que acreditei ter conquistado.
vi meu semblante no espelho. triste.
não há bilhetes de sorte em meu realejo.
inexiste melodia em meu realejo.
só há mais dois cigarros e algumas lágrimas.
que faço depois?
trai a minha confiança.
trai minha esperança.
trai o tempo que me foi dado.
amanhã arrumo as malas.
tão fácil arrumar malas. as de roupas.
não sei quando arrumo a bagagem.
há neblina na estrada, chuva, curvas perigosas.
transpiro sem me movimentar.
pés paralelos, sem saber que passo dar agora.
soube perder tudo o que acreditei ter conquistado.