terça-feira, 22 de novembro de 2005

:: poeiras insanas


é hora de folgar a gravata do romantismo
e deixar que o tempo e as circunstâncias te norteiem.
prefere o silêncio do coração que a indecifrável insegurança
que ronda os arredores de tua felicidade.

despreza designações e tratados, vez por outra.
permite fingir-te apático casualmente.
a verdade, por mais que te importune e atordoe
é, supostamente incompatível, teu amparo.

desamarre as ilusões dos teus cândidos ideais.
são somente teus, não os estenda a ninguém
pois não se tornam dignos de tuas lisonjas
apenas por força de tuas banais teimosias.

persevera no sentido de um dia amar só.
ou apenas entrega-te, lânguido, aos prantos.
ou cessa o calor e rende-te às tuas infiéis frivolidades.

a dor, um dia, acomodar-se-á em tua essência
e, sereno ou sofrendo, perecerás nas esperanças
de te apossar indubitavelmente do afeto alheio.
e, ainda assim, chegando esse instante
em que a alma engana-se sobrenadando
nas poeiras insanas da comoção,
velarás teu pressentimento tão frágil
de que havia, enfim, ter alguém [con]vencido.

amargura e chora.

mas chora sempre instigando.
ou o abandono, à força, dos desejos
ou a entrega às venturas eleitas pelo amor que antevês.

[22.11.2005]